O ecólogo e pesquisador David Montenegro Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Gepagri), da Universidade de Campinas (Unicamp), dedicou anos de sua vida aos estudos sobre a Amazônia e garante a possibilidade: “Com a devastação da Amazônia, a próxima grande pandemia pode surgir no Brasil”.
Lapola explica que a Floresta Amazônica possui milhares de microrganismos, incluindo vírus, fungos e bactérias, que vivem em perfeito equilíbrio com os animais selvagens e seus habitats. Quando há intervenção nesses habitats, há desequilibro, seja populacional ou ambiental, havendo alteração nas cadeias, podendo ocorrer um “pulo”, um “salto” do vírus dos animais para os humanos. Uma reportagem do Correio 68, mostrou essa semana que o desmatamento na Amazônia cresceu 171% no mês de abril quando comparado ao mesmo mês no ano passado. Desmatadores estão aproveitando a atenção das autoridades para a pandemia do novo coronavírus para cometer seus crimes ambientais.
“A história é conhecida: a intervenção humana em matas nativas pode gerar desequilíbrio ecológico e exportar doenças do coração da floresta”, diz Lapola dando exemplos de doenças conhecidas que aconteceu o mesmo, como HIV, ebola e dengue.
Uma análise feita por uma equipe liderada por Simon Anthony, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, também afirma que a região com a maior floresta tropical do mundo é considerada um provável polo de epidemias. Só de coronavírus, classe de vírus que causou a Covid-19 no mundo, também circulam em morcegos no Brasil, o levantamento contabilizou pelo menos 3.204 tipos de vírus diferentes da classe.
Ana Lúcia Tourinho, doutora em ecologia pela Universidade Federal do Mato Grosso, diz que: “A floresta fechada é como um escudo para que comunidades externas entrem em contato com animais que são hospedeiros de micro-organismos que causam doenças. E quando a gente fragmenta a floresta, começa a fazer vias de entrada no seu seio, isso é uma bomba-relógio.”