Ter segundo turno foi a melhor coisa que aconteceu para o Brasil em muitos anos. Pela primeira vez desde que iniciou, os dois extremos da polarização ficaram cara a cara e tiveram que dialogar um com o outro. O motivo? Os dois lados precisavam ganhar votos para seus candidatos, pois cada um tinha medo que o outro lado vencesse.
Enquanto um temia pela implantação de uma ditadura militar, o outro estremecia com a ideia de uma ditadura bolivariana. Para convencer o lado oposto, Bolsonaro começou a adotar falas mais flexíveis, pediu desculpas pelo jeito que fala e tentou até conversar com minorias, que tanto já criticou. Lula, negou ser a favor de temas polêmicos como aborto, se aliou a um vice conhecido na direita e dialogou mais com quem não simpatiza com as ideias da esquerda. Os dois cederam, a vantagem nisso é que os dois seriam cobrados por seus compromissos ao serem eleitos.
Nas redes sociais, lulistas e bolsonaristas dialogavam com respeito em muitos casos. Claro, há grandes exceções. Mas quem não reconhece isso, provavelmente não acompanhava bem as redes sociais antes do período eleitoral, onde cada lado parecia viver num país diferentes, com convicções tão fortes. Ir para o 2º turno trouxe os dois lados para a mesma realidade. Muito se escutou que “é o meu e o seu futuro que está em jogo”.
O 2º turno ensinou aos eleitores dos dois lados que nem tudo o que está na internet é verdade. Os dois lados sofreram com fake news e muitos cobraram mais responsabilidade. Ainda que de clima hostil, ainda que com intenções de tumultuar, ou seja por qual fosse a razão, um lado tentou fazer com que a mensagem chegasse do outro e consequentemente absorvia informações de lá.
Temos agora um Congresso formado por parlamentares majoritariamente de direita e um presidente que é o principal líder da esquerda. Lula será fiscalizado como nunca foi, enquanto o Congresso ficará com a missão de não aprovar pautas polêmicas e que assustam seus eleitores, como: mudar a cor da bandeira para vermelho. Embora isso nunca tenha sido cogitado.
Após os resultados, muitos questionam: haverá tentativa de golpe por parte de Bolsonaro? O palpite deste blog é que não. As eleições foram finalizadas da melhor forma possível, cheia de justificativas para o resultado. O bolsonarista sabe que Roberto Jefferson prejudicou a campanha de Bolsonaro; sabe que a fala de Bolsonaro sobre as imigrantes venezuelanas adolescentes também foi mal vista; que a entrevista totalmente desnecessária sobre a intenção de canibalismo assustou algumas pessoas; que a falta de controle da deputada Carla Zambelli ao sacar sua arma e mentir sobre a motivação na véspera das votações, pode ter “fechado o caixão”.
O blog acompanhou durante toda a campanha o movimento dos principais perfis de apoiadores dos dois lados e percebeu a leve mudança no discurso dos bolsonaristas, que devagarzinho foi diminuindo a esperança de reeleição. Os eleitores sabem que cada um desses episódios foi diminuindo os votos até a possibilidade de perder por uma diferença de 2 milhões, a mais apertada da história. A derrota pode ser justificada de muitas maneiras e isso tira as chances de Bolsonaro ter munição para sustentar um golpe.
A vitória de Lula já foi reconhecida pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) e pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-RO). Além de aliados do próprio Bolsonaro, como Nikolas Ferreira, Carla Zambelli, Damares Alves, Fabio Faria, Ricardo Salles e outros.
Além do mais, prevendo uma nova “invasão do Capitólio”, que aconteceu após eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos, líderes dos mais importantes países do mundo se anteciparam ao reconhecer apoio à vitória de Lula, dando sinal de que esses países a consideram legítima e não apoiariam uma investida de manutenção do poder. Países como Estados Unidos, França, Reino Unido, China, Rússia, Argentina, México e Canadá, já se manifestaram.
Curioso nisso é que Lula conseguiu um feito que somente alguém que tem uma boa relação e aceitação mundial conseguiria. Lembrando que a Rússia está em guerra contra a Ucrânia, país apoiado e sustentado pelos EUA, inimigos históricos e os dois enviaram mensagens apoiado uma relação com o Brasil.
Este blog deseja ao presidente eleito Lula um bom governo, que reflita nesses dois meses que faltam sobre os erros cometidos nos primeiros mandatos e cumpra sua promessa de olhar pelo povo brasileiro. O blog também se compromete a fazer oposição proporcional às ações consideradas negativas durante a gestão, mantendo sua coerência nas análises, independente de quem governar.
Ao presidente Jair Bolsonaro, o blog deixa o reconhecimento da grandeza política de seu nome, pela capacidade de atrair milhões de seguidores e eleger com votações notórias parlamentares apenas pela sua recomendação. Que reconheça a derrota, como o democrata que disse ser durante a campanha e que também reflita sobre os erros de sua gestão e o peso de suas falas, que podem influenciar pessoas a romantizar protagonismos desnecessários e danosos. Carla Zambelli disse em depoimento que atirou para cima, mas o projétil atingiu a sua campanha. As armas o elegeram em 2018 e podem tê-lo tirado do poder em 2022.