O planeta em alerta: extremos climáticos globais e os desafios do Acre em 2024

O planeta em alerta: extremos climáticos globais e os desafios do Acre em 2024

O ano de 2024 ficará marcado como um ponto de inflexão na luta contra as mudanças climáticas. Em todo o mundo, extremos climáticos recordes evidenciaram os impactos do aquecimento global, deixando populações vulneráveis e sistemas naturais à beira do colapso. No Acre, estado amazônico do Brasil, essa nova realidade se manifestou de forma dramática, com uma sequência de eventos que incluem enchentes históricas, seca extrema e incêndios florestais.

  • Temperatura média global em 2024: 1,6°C acima dos níveis pré-industriais.

Um panorama global alarmante

De megaincêndios na América do Sul, Canadá e Europa até secas severas na Amazônia e no Pantanal, o impacto das altas temperaturas foi sentido em todos os continentes. No hemisfério norte, furacões mais fortes devastaram os Estados Unidos, enquanto o Saara enfrentou chuvas torrenciais e enchentes em regiões onde a água é uma raridade. O cenário foi marcado por perdas humanas e de biodiversidade, enquanto economias tentavam se adaptar às interrupções causadas pelos desastres.

Na América Latina, a situação foi especialmente crítica. Regiões como o centro do Brasil e o México registraram picos de calor acima de 45°C, suficiente para causar mortes em larga escala de animais silvestres e afetar milhões de pessoas. No Brasil, as consequências foram ainda mais severas, com cheias históricas no Rio Grande do Sul contrastando com a seca extrema que comprometeu a Amazônia e o Pantanal.

Enquanto a superfície terrestre enfrentava recordes de temperatura, os oceanos não ficaram atrás. Em 2024, as águas atingiram a média anual de 20,87°C, a mais alta já registrada. Esse aquecimento ampliou a evaporação, carregando a atmosfera com mais umidade e intensificando chuvas torrenciais em diversas partes do globo. Regina Rodrigues, oceanógrafa da Universidade Federal de Santa Catarina, alerta: “Os oceanos deixaram de ser um refúgio para o calor e agora se tornaram uma das maiores fontes de desastres climáticos.”

Temperatura média da superfície do mar em 2024: 20,87°C

Além das condições climáticas extremas, o ano foi marcado por níveis recordes de emissões de dióxido de carbono e metano, que atingiram 422 partes por milhão (ppm) e 1.897 partes por bilhão (ppb), respectivamente. Especialistas indicam que o aquecimento global registrado em 2024 não pode ser explicado apenas por fenômenos naturais, como o El Niño. A ação humana, com o contínuo aumento na emissão de gases de efeito estufa, está no centro do agravamento da crise climática.

Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, descreve o cenário como preocupante. “Mesmo que haja variações temporárias, como a La Niña que esperamos em 2025, o aquecimento global está avançando em um ritmo muito mais rápido do que as projeções anteriores indicavam.”

Outro marco de 2024 foi o impacto direto do calor extremo na saúde humana. Em 10 de julho, cerca de 44% da superfície terrestre estava sob estresse térmico severo, colocando bilhões de pessoas em risco. O fenômeno aumenta a incapacidade do corpo de regular sua temperatura, potencializando doenças e agravando condições de saúde existentes.

Acre: extremos climáticos em foco

Enquanto o mundo lidava com essas crises, o Acre se tornou um exemplo claro de como as mudanças climáticas estão afetando as regiões tropicais. Em março de 2024, o estado enfrentou a segunda maior enchente registrada no Rio Acre desde 1971. O nível do rio atingiu 18,81 metros, desabrigando mais de 20 mil pessoas e causando prejuízos estimados em R$ 200 milhões. Infraestruturas urbanas foram severamente danificadas, especialmente em Rio Branco, onde bairros inteiros ficaram submersos.

Apenas seis meses depois, o cenário mudou drasticamente. A seca mais severa da história do estado secou rios, isolou comunidades e agravou problemas de abastecimento. Em Xapuri, o Rio Acre atingiu 1,49 metro, a segunda menor cota já registrada, enquanto em Sena Madureira, o Rio Iaco chegou a apenas 52 centímetros. O transporte fluvial, essencial para muitas comunidades do interior, foi interrompido, dificultando o acesso a alimentos e outros bens essenciais.

Além das enchentes e secas, o Acre também enfrentou um aumento alarmante de incêndios florestais. Entre janeiro e agosto, foram registrados 50 mil focos de incêndio na Amazônia, um aumento de 77% em relação ao ano anterior. O estado foi coberto por uma densa camada de fumaça, comprometendo a qualidade do ar e agravando problemas respiratórios na população. Em agosto, o número de focos de incêndio foi 45% maior do que no mesmo período de 2023.

Entre janeiro e agosto de 2024, no Acre 50 mil focos de incêncio

Em meio a esse cenário, iniciativas como o Projeto Horizon, do Instituto GeoLAB, têm desempenhado um papel importante no monitoramento e resposta aos riscos climáticos. O projeto, apoiado pelo CNPq Brasil, oferece dados atualizados e precisos para ajudar comunidades e autoridades a se prepararem para eventos climáticos extremos. Em 2024, o GeoLAB realizou trabalhos de campo no Acre, incluindo análises do leito seco do Rio Acre, que forneceram informações essenciais para a gestão de desastres.

No entanto, apesar de esforços como esse, especialistas alertam que ações mais amplas e coordenadas são necessárias. O financiamento climático global, discutido em eventos como a COP28 e COP29, precisa ser ampliado para atender às demandas de adaptação e mitigação em regiões vulneráveis como a Amazônia.

Os extremos climáticos de 2024 no Acre são um microcosmo da crise climática global. Eles destacam não apenas os desafios imediatos, como enchentes, secas e incêndios, mas também os impactos de longo prazo na saúde, economia e biodiversidade. Para a população acreana, o futuro dependerá de ações rápidas e eficazes que combinem ciência, políticas públicas e engajamento global. O planeta, cada vez mais aquecido, exige respostas urgentes, e o tempo para agir está se esgotando.

Fotos: Sérgio Vale

Prefeita em exercício, Delcimar Leite acompanha serviços da saúde

Prefeitura de Cruzeiro do Sul segue com operação tapa buracos nas principais vias da cidade